Ateliê de Artes Plásticas do CCSP
Um espaço criativo em movimento



Um espaço aberto para a experiência, um lugar dedicado à invenção, um incentivo às pesquisas em movimento: o Ateliê de Artes Plásticas do CCSP funcionou no Piso Flávio de Carvalho durante vinte e quatro anos (de 1982 até 2006) e abrigou em seu espaço inúmeras iniciativas ligadas à antiga Divisão de Artes Plásticas, que refletiam sobre arte e educação a partir da prática cotidiana.

Iniciado na gestão de Renina Kats como diretora da Divisão de Artes Plásticas, o Ateliê foi fundado e coordenado por Ana Cristina Rocco Pereira de Almeida, que trouxe consigo os educadores Carmem Aranha, Chakê Ekizian e Paulo Von Poser. Além deles, um grupo de cerca de quinze educadores de formações e experiências diversas compunham a equipe que atendia turmas de crianças, jovens, adultos e terceira idade, além de conduzir parcerias especiais com a antiga FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) e, mais tarde, com o CAPS (Centro de Atendimento Psico-Social) do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.

“Tudo era muito legal porque era muito pelo fazer. Tinha referências e teorias, mas o grande lance era fazer, experimentar”, conta Denise Bertacchi Brogiolo, que participou do Ateliê desde sua fundação e hoje integra a equipe da Divisão de Ação Cultural e Educativa (DACE) do CCSP.

O foco na prática estava entre as principais características fundantes do Ateliê, mas não era a única. A liberdade e o movimento também eram diretrizes que guiavam todas as atividades daquele espaço de pesquisa e aprendizado. O próprio espaço interno era “transformável” para se adequar às demandas dos encontros.

Cada educador realizava sua própria pesquisa artística e era a partir desta investigação que estimulava o público a alçar seus próprios vôos em contato com o abundante material que ficava disponível para todos, em um espaço cujo formato lembrava uma espécie de gaiola redonda e vermelha no centro do Piso Flávio de Carvalho. “Não era fixo, estava em movimento, inclusive a minha pesquisa era sobre movimento”, afirma Denise. A experimentação, segundo ela, não era aleatória, partindo sempre de uma questão que motivava cada pesquisador. E o objetivo era despertar também no público a busca por uma questão própria de onde partir para a experimentação. “Você não é dono do saber, você aprende junto, você faz junto”. Com relação ao acompanhamento das pesquisas, Marta Lopes dos Santos Keppler, que também compôs a equipe do Ateliê e hoje trabalha na DACE, complementa: “Era muito intenso. E o principal era trabalhar a liberdade”.

Outro fundamento importante que constitui a visão de arte, educação e cidadania que podemos perceber nas atividades do Ateliê é a convicção de que aquele espaço não tinha por objetivo a formação de profissionais de arte, mas de cidadãos. “A gente não queria que as pessoas virassem artistas; aquele era um canal de expressão; um espaço para exercitar ética, respeito, valores”, reforça Denise.

Todos estes fundamentos nasciam e eram discutidos, questionados, reforçados em conversas frequentes entre todos os integrantes da equipe e este hábito fez surgir um grupo tão autônomo a ponto de, no início da década de 1990, indicar sua própria diretora - a eleita foi Carmem Aranha. Tal autonomia também era o que permitia que o projeto fosse guiado pela vontade de seus integrantes em vez de exigências institucionais. “A gente fazia porque a gente queria se não quisesse era só não fazer”, conta Marta. “A gente fazia porque pra nós o trabalho tinha que ter um sentido”, complementa Denise.

Como o trabalho realizado era contínuo, ou seja, atendia aos mesmos frequentadores durante anos, era possível avaliar boa parte das transformações alcançadas no processo. Na parceria com a FEBEM, por exemplo, os educadores do CCSP produziam um relatório sobre o desenvolvimento de cada criança nas oficinas e, em troca, a FEBEM também entregava um relato dos efeitos da parceria no dia a dia da instituição.

A abertura dos educadores aos desejos dos participantes das oficinas era uma metodologia que os motivava em suas próprias pesquisas, “quando a pessoa ia embora, você também estava alimentado”, lembra Marta. Ao mesmo tempo, era uma proposição de disponibilidade para a troca e o risco. Constantemente, os freqüentadores perguntavam aos educadores “Mas vocês não vão ensinar nada?”. A resposta era sempre que não, que iriam dar as condições do aprendizado.

Por sua proposta de ser um espaço em movimento de invenção e irradiação das descobertas, além de um espaço de formação artística e cidadã para os participantes, o Ateliê foi também um espaço fundamental na formação dos próprios educadores que o integraram. Para Marta, “foi a minha escola de vida”, para Denise, “é uma questão de formação da identidade”. Para a história do CCSP e da vida de todos que passaram pelo Ateliê, fica a memória de que existiu, durante mais de vinte anos no Piso Flávio de Carvalho, um espaço reservado ao risco e ao movimento.