A Anilla Cultural Latinoamérica-Europa é o resultado de uma aliança entre cinco equipamentos culturais da América Latina e Europa comprometidos com o desafio de gerar dinâmicas de trabalho conjunto inspiradas no modelo de redes distribuídas.
Os objetivos da Anilla Cultural Latinoamérica-Europa são, basicamente: o incentivo à cocriação e ao intercâmbio de conteúdos e iniciativas entre equipamentos culturais latinoamericanos e europeus; a pesquisa, a experimentação e a inovação no âmbito cultural; e a promoção do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação na gestão de atividades culturais. Para sua implementação o Centro Cultural São Paulo contou com a valiosa colaboração da Rede Nacional de Pesquisa (RNP/MCT)e da Universidade de São Paulo, em particular a Coordenadoria de Tecnologia da Informação (CTI), o Centro de Computação Eletrônica (CCE) e a Fundação USP.
Seu desenvolvimento contempla a integração de novos atores sensíveis à aplicação da filosofia 2.0 a serviço da cocriação cultural, com o objetivo de impulsionar uma rede de Internet avançada entre equipamentos culturais na América Latina que interconecte e favoreça o desenvolvimento de novos marcos de ação e formatos para a coprodução cultural.
A Anilla Cultural Latinoamérica-Europa é uma iniciativa da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), do Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB) e da Fundação i2Cat.
Participam da Anilla Cultural, junto com o Centro Cultural São Paulo, o Museu de Antioquia, em Medellín, Colômbia; o Museu de Arte Contemporânea da Universidade do Chile, em Santiago; o Centro Cultural da Espanha de Córdoba, Argentina; e o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, Espanha.
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Lembrando que a Ágora grega, a praça pública, era um espaço de cidadania e embate político, a Ágora, como símbolo inaugural da Anilla Cultural considera o público local, interno e externo, como colaborador direto deste projeto. Dentro desta perspectiva cabe-nos propor os meios e mecanismos, linguagem e discursos, compatíveis com o desafio da Internet 2, utilizando seus recursos técnicos de imagem e som, de forma interativa e comunicativa.
Ao escolher os recursos audiovisuais para este primeiro evento, usamos e conhecemos a linguagem da qual a partir de agora estamos conectados, um exercício de metalinguagem. Também é um exercício artístico na medida em que artistas profissionais, ou seja, criadores estão envolvidos da roteirização, na videodocumentação e na edição da imagem e do som, através de DJs e VJs.
A primeira instalação internacional por satélite aconteceu no ano novo de 1984. Good Morning Mr Orwell, comandada pelo multi-artista Nam June Paik, foi possível por meio de uma nova tecnologia disponível pela WNET TV e possibilitou a interação de ações artísticas produzidas e transmitidas em tempo real entre New York e Paris. O resultado deste happening eletrônico foi também acompanhado via TV na Alemanha, Corea do Sul e EUA alcançando uma audiência de mais de 25 milhões de telespectadores.
Passados ¼ de século, quais são as possibilidades abertas pelo novo recurso da Internet 2 ? Quais são os desafios a serem enfrentados pela proposta de desenvolvimento conjunto/coletivo de uma nova ágora?
Good Morning, Mr. Orwell reuniu artistas multimídia de peso, como John Cage, Charlotte Moorman, Laurie Anderson, Peter Gabriel, Philip Glass, Allen Ginsberg, Peter Orlovsky, Merce Cunningham e Joseph Beuys. Aqui o padrão vigente ainda é o Modernista, aquele que tem no grande artista, no grande gesto, a sua referência: o lócus é o autor. Outro dado importante a salientar é o fato da recepção ser passiva, pois as pessoas receberam as imagens produzidas em suas televisões.
Nesta comparação, nos parece que o grande desafio hoje está no coletivo da ágora, na multidão, na possibilidade de trabalharmos o deslocamento do público, da audiência. Produzir um happening não só presencial como virtual, permitir, quiçá, como sugeriu recentemente Martí Peran em uma videoconferência em um encontro de residências artísticas iberoamericanas realizada em São Paulo, a concretização de uma utopia que seria a residência de públicos, permitindo assim não só o intercâmbio da criação (individual no padrão modernista) como da recepção da arte: promover assim o compartilhamento da experiência artístico-cultural.
Hoje não mais falamos em multiculturalidade - vista como uma justaposição de culturas que convivem, se toleram e sublinham suas diferenças - mas sim em interculturalidade - quando as culturas se entrelaçam, se confrontam e negociam entre si. Canclini, em seu livro Diferentes, desiguais e desconectados, vê nesta situação a necessidade de "prestar atenção às misturas e aos mal-entendidos que vinculam os grupos", observar como cada grupo "se apropria dos produtos materiais e simbólicos alheios e os reinterpreta". Não se trata nem de reforço de identidades e nem de "fusões" mas de tornar complexa a relação entre culturas. Martín-Barbero em seu texto Por uma outra comunicação coloca que as relações entre cultura e política adquirem outro sentido quando o espaço público abre não para representar as pessoas, mas para reconhecer, dar voz.
Divisão de Curadoria e Programação e Divisão de Informação e Comunicação do CCSP